terça-feira, 26 de maio de 2009

Mata atlântica

A mata atlântica brasileira teve 102,9 mil hectares derrubados de 2005 a 2008, mostrou o Atlas de Remanescentes Florestais divulgado hoje pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A área devastada corresponde a dois terços do território da cidade de São Paulo. O estudo leva em conta dados de dez dos 17 Estados com este tipo de vegetação. O diretor de mobilização da fundação, Mario Mantovani, explica que o desmatamento está associado à expansão urbana nos limites da floresta.


O ritmo do desmatamento se manteve em comparação com os dados de 2000 a 2005, quando a média anual de derrubada foi de 34,9 mil hectares. Nos últimos três anos foram desmatados, em média, 34,1 mil hectares por ano. "Está se desmatando na mesma velocidade", diz Mantovani. "Nesses três anos, confrontando com os cinco anteriores, foi desmatado quase o dobro nos dez estados analisados."

O resultado desse cenário é que, somados todos os fragmentos de floresta com mais de três hectares, resta hoje no País apenas 11,4% da cobertura original dessa vegetação. São apenas 147 mil quilômetros quadrados de mata atlântica. O mapeamento indica ainda aumento na fragmentação das áreas de mata. Elas estão menores e mais distantes uma das outras.

Minas Gerais foi o Estado que mais destruiu, com 32,7 mil hectares de mata derrubados de 2005 a 2008. O coordenador técnico do estudo, Flavio Ponzoni, do Inpe, classifica o Estado como "o grande desflorestador". "Os motivos são ora a agropecuária, ora a especulação imobiliária", diz. Mantovani acrescenta ainda como causas do desmatamento a extração de carvão e a siderurgia em Minas.

Santa Catarina aparece em seguida, com 25,9 mil hectares derrubados, segundo Mantovani, por desobediência à nova lei da mata atlântica, que estabelece limites de preservação ambiental. "O caso de Santa Catarina é de desobediência civil", diz o pesquisador. "Políticos e dirigentes promoveram toda sorte de maldades contra a mata, culminando em um código ambiental estadual inconstitucional." Outros grandes desmatadores são a Bahia (24,1 mil hectares a menos) e o Paraná (9,9 mil hectares). Para os pesquisadores, a situação é crítica nesses quatro Estados porque eles abrigam as maiores áreas de mata atlântica do País.

domingo, 24 de maio de 2009

Exigencias da vida moderna

Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C.

Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água.
E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também.
Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.
Um copo de cerveja, para… não lembro bem para o que, mas faz bem.
O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

Todos os dias deve-se comer fibra.
Muita, muitíssima fibra.
Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.
E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada.
Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia.

E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.
Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.
Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia.
Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.

Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

Ah! E o sexo.
Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina.
Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução.
Isso leva tempo e nem estou falando de sexo tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação.

Na minha conta são 29 horas por dia.
A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!!!

Tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos e seus pais.
Beba o vinho, coma a maçã e dê a banana na boca da sua mulher.
Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésia.

Agora tenho que ir.
É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro.
E já que vou, levo um jornal…

Tcháu….
Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.

(Luis Fernando Veríssimo)

Ladrões modernos

"Brevemente, ouviremos a aeromoça falando: "senhores passageiros, em caso de assalto, cairão automaticamente à sua frente coletes de aço e capacetes protetores contra tiros. Coloquem, e depois tenham calma com os ladrões. Não invadam a primeira classe, toda blindada e equipada com kits de sobrevivência, com champanhe e caviar para seqüestros de longa duração." O problema no Brasil é que os ladrões principais não viajam armados. São todos bem vestidos e protegidos por nossas leis em vigor. E já que a reforma do Judiciário não sai, o que nós precisamos é inventar um raio X para Lalau, para gatunos de colarinho branco. Raios x para as almas negras dos corruptos, principalmente no aeroporto de Brasília."

Arnaldo Jabor

Soneto de Fidelidade


"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

Vinicius de Moraes

Eu acredito...

Por não saber o que quero da vida, vivo fazendo o que não quero. Por amar demais, vivo sonhando. Vivo com poucos amigos, poucas cifras e poucos CDs. Vivo com alguma poesia, uma caixa de lápis de cera e duas calopsitas. Vivo sem sorte no jogo e apostando no amor. Acredito no amor, apesar de o amor não acreditar em mim. Valorizo as pequenas coisas, como o chocolate no fim da tarde e o almoço no meio do dia. Valorizo a boa intenção. A boa fé. Acredito nas palavras do coração pra fora. E nos sentimentos do coração pra dentro. Acredito em tudo que vem de dentro da alma. Acredito no agora e desconfio – muito – do futuro. Desejo o bem pra quase todas as pessoas que conheço. Acredito no desejo. Acredito na vontade que faz acontecer. Acredito que tudo que queremos de verdade acontece. Não acredito em signos, cartas e tarô. Respeito todas as crenças. Acredito no amor que dura uma vida inteira. Desconfio do amor que dura uma noite. E respeito todas as formas de amar.

Amigos.

Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.

Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.

Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.

Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.

Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.

Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.

Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.

Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.

APRENDI

Aprendi que eu não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência, para que a vida faça o resto.

Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente que não dá a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las.

Aprendi que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos. Que posso usar meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou falando.

Eu aprendi... Que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida. Que por mais que se corte um pão em fatias, esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale para tudo o que cortamos em nosso caminho.

Aprendi... Que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência. Mas, aprendi também, que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei.

Aprendi que preciso escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles. Que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, independentemente do medo que sentem.

Aprendi que perdoar exige muita prática. Que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.

Aprendi... Que nos momentos mais difíceis a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava que iria tentar piorar as coisas.

Aprendi que posso ficar furioso, tenho direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel. Que jamais posso dizer a uma criança que seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo se eu conseguisse convencê-la disso.

Eu aprendi... que meu melhor amigo vai me machucar de vez em quando, que eu tenho que me acostumar com isso. Que não é o bastante ser perdoado pelos outros, eu preciso me perdoar primeiro.

Aprendi que, não importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.

Eu aprendi... Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu faço quando adulto.

Aprendi que numa briga eu preciso escolher de que lado estou, mesmo quando não quero me envolver. Que, quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiem; e quando duas pessoas não discutem não significa que elas se amem.

Aprendi que por mais que eu queira proteger os meus filhos, eles vão se machucar e eu também. Isso faz parte da vida.

Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes.

Aprendi também que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.

Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério. E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos.

Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.

Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.

Charles Chaplin

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Já era

Vivi Fernandes de Lima

Era pra ser um poema de despedida,
mas cadê vontade?
Era pra ter sido uma noite sem bebida,
mas cadê coragem?
Era pra eu esquecer o teu cheiro,
mas ele é tão bom…
Era pra eu não reconhecer a tua voz,
mas eu ainda me arrepio!
Era pra eu ficar em paz,
mas você é muito atento.
Era pra eu não querer te ver nunca mais,
mas nunca mais é muito tempo.

Vivi Fernandes de Lima nasceu em Belford Roxo (RJ). É jornalista e mãe do João. Escreve poesia desde criança, crônicas desde a adolescência e contos desde os 20 e poucos. Em 2002, venceu o Prêmio Carioquinha de Literatura Infantil, promovido pela prefeitura do Rio, com o livro “Cinzão, o gato fujão”. No mesmo ano, teve poemas musicados por Ivan Lins, Leandro Braga e Edmundo Souto. De lá pra cá, vem se preparando para tirar livros da gaveta e pagar contas.

Dilma para poucos

Ana Dubeux - Correio Braziliense

anadubeux.df@diariosassociados.com.br






Há muitas formas de se enfrentar um diagnóstico de câncer. Normalmente, as pessoas escolhem uma e seguem em frente. Algumas se deprimem, outras lutam bravamente. A ministra Dilma Rousseff fez obviamente a segunda opção. Mas, no caso específico dela, o périplo a seguir já começou mais longo, antes do momento em que decidiu tornar pública sua condição de paciente de câncer. As consequências dessa declaração, que variam das imensas manifestações de apoio e solidariedade às mais imbecis tentativas de espetacularizar o caso, não foram exatamente as maiores preocupação da ministra. Ainda que muitos tenham certeza de que seu maior ato de coragem foi ali, diante das câmeras e microfones, ao lado de médicos e assessores. Antes de ser obrigada (para não se tornar vítima de especulações criminosas) a transformar sua doença num boletim médico, Dilma precisou olhar-se no espelho e reconhecer na mulher, que está no auge da carreira política e em ótima forma física, uma paciente de câncer. E isso inclui encarar o estigma cruel da doença. Precisou também contar para a mãe, Dilma, e para a filha, Paula. Exatamente este foi o momento mais delicado de todo o processo, como ela disse a mim e ao repórter Daniel Pereira na última sexta-feira, quando nos recebeu para a entrevista que você lê hoje aqui no Correio. Por mais que a olhemos como a pré-candidata à Presidência da República agora vitimada por um linfoma, com tudo o que isso representa, Dilma se vê como Dilma, com tudo o que ela é. Jornalistas em geral têm a pretensão de atribuir escalas de valores aos sentimentos humanos. Até corro esse risco, mas não posso me abster das minhas impressões pessoais do encontro com a ministra. Dilma ri muito, o que contraria o senso comum — ou a imagem imediata que você tem da ministra é de uma pessoa alegre e sorridente? Sim, ela é bem-humorada, muito embora não seja sempre assim e se reserve o direito de ser dura no trabalho. É uma característica pessoal dela, como deve ser de muitos outros políticos, mas se fala muito pouco ou quase nada dos humores, das barrigas e dos botox masculinos — e isso é um fato indiscutível. Por que razão o fato de ser durona virou a característica predominante de Dilma, é pergunta a ser feita às fontes jornalísticas, que muitas vezes ajudam a forjar um todo pela parte. E então a meia-verdade passa a ser absoluta. Engraçado então que toda essa pseudoaparência se desfaça nos poucos minutos de uma conversa sobre temas da vida cotidiana, como a maternidade, por exemplo. Dilma se emociona ao falar da mãe, da filha e dos filhos que queria ter tido e não teve; endurece ao lembrar da ditadura e tortura e ri diante das incompreensões diversas a respeito de ser mulher no mundo da política ou de ser política num mundo machista, tanto faz. A ministra, de fato, é uma pessoa envolvente. O que me impressionou nela, no entanto, não é a tranquilidade com a qual demonstra ter enfrentado um câncer publicamente, mas o fato de ser fiel ao espírito que a conduziu até aqui, mesmo diante da vulnerabilidade do momento. Ela continua a ser uma mulher sem meios-termos, como já nos conta sua biografia. Por isso, quando ela me disse que vai vencer o câncer, eu acreditei.

Todas as cartas de amor

Fernando Pessoa

(Poesias de Álvaro de Campos)

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)



Álvaro de Campos, 21/10/1935

Os versos acima, escritos com o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro “Fernando Pessoa - Obra Poética”, Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 399. Fonte Releituras

Não seja normal

"Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me
pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só
que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é:
Quem espera o que de nós?
Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?

Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Maria bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que
ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.

A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de
sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?

Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que
você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.

Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.

Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos
mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.

Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes."

Martha Medeiros

Lágrimas de amor e sangue

João Carlos


Para o amor da minha vida

Quero-te não para guardar em uma caixa
ou prender-te a um cofre para exibir
em reuniões ocasionais, finais de semana.
Não como jóia rara, cara, coleção de selo,
esquecidas em caixinhas prateleiras,
veneradas de quando em quando,
ao gosto e sabor do proprietário.

Quero-te sim possuir, possuindo como
o agricultor a chuva, o surfista o mar,
a criança o mundo e o pássaro o ar.
Quero ser pai, filho, irmão, namorado,
não te abandonar nunca, sempre ao seu lado.

Quero tomar conta de ti e proteger-te,
não para prender-te às regras ou convenções,
mas para que sejas livre, e sendo livre,
resgate-me de onde estou preso, e te escrevo
em meio a lágrimas de sangue e amor.

E-mail: jcozec@yahoo.com

João Carlos (1967) mora em Brasília (DF), e diz ser esse seu primeiro poema. Não tem trabalhos publicados. Fonte Releituras

Romance

Marcelo Nogueira

Ele marcou um jantar inesperado numa quarta-feira à noite. Pelo tom de voz ao telefone, não seria exatamente romântico. Mesmo assim, na hora marcada, ou uma meia horinha depois da hora marcada, ela apareceu linda, chamando a atenção dos outros clientes do restaurante. O garçom puxou a cadeira. Ela sentou-se, elegante. O marido já estava lá, suando (ele costumava suar muito), parecia nervoso. Sob a luz da vela ao centro da mesa, ela segurou a mão dele e disse:

— Desembucha, Paulo.

Ele limpou o suor no guardanapo de pano, olhou para os lados e pigarreou.

— Dessa vez você foi longe demais.

— O livro?

— Claro. O livro, essa droga desse livro.

— Eu sabia. Você está misturando as coisas, Paulo. Eu sou uma escritora, é a minha profissão, você sabe disso.

— Claro que eu sei, eu sempre admirei o seu talento, foi o que aproximou a gente. Mas era bem diferente naquela época. Você escrevia contos eróticos, lembra? Aquilo, sim. Eu li um deles e pensei: “preciso conhecer essa mulher”.

— Qual foi mesmo?

— “Orgias na escada”.

— Era um conto romântico.

— Eu lia tudo o que você escrevia. Os textos eram picantes, sensuais, não tinha ninguém melhor do que você para descrever uma, uma…

— Paixão?

— Putaria.

— Agora é putaria? Antes você dizia que era arte…

— Mas é arte! Claro que é! O que seria da arte sem a putaria? Inclusive, depois da gente se conhecer, os textos ficaram bem mais ricos. Você descrevia tudo o que a gente fazia, lembra? Teve aquele conto do metrô, o da obra abandonada, o do tanque do leão-marinho…

— Esse foi um dos melhores.

— Aquilo era um fetiche para mim, quando a gente transava era como se todos os seus leitores estivessem olhando. Aí veio o primeiro romance, uma obra-prima.

— “Meu marido insaciável”. Imaginei que você fosse gostar.

— E o seguinte, então: “Um verão em 69”.

— Nossas primeiras férias, em 1993.

— Depois vieram “Quanto mais, melhor”, “O que é possível no Kama Sutra”, “O martírio de um estrado”, tantos que eu nem lembro de todos. O nosso amor estava lá naquelas páginas, de verdade. Os gestos, os toques, os cheiros. Até que, de repente, você vem com aquele livro mentiroso…

— Você tem que entender, aquilo foi quando eu comecei a escrever ficção, eu expliquei isso na época. Era ficção!

— “Broxada em Marte”, Silvia? E desde quando marciano usa meias? Bem na hora do sexo?

— Eram quatro meias! Você nunca usou quatro meias!

— Daí para a frente foi só esculhambação. “O amor já foi melhor”.

— Era um livro filosófico.

— “Decepções amorosas de uma samambaia”. Samambaia! Você podia ter arranjado um disfarce melhor!

— Não era disfarce, era uma planta! Você é muito desconfiado!

— A planta era escritora!

— Mas ela era ruiva, eu sou morena! Não tem nada a ver!

— Eu relevei, aceitei seus argumentos por todos estes anos. Mas esse livro novo eu não vou aceitar!

— Por que não? Você não pode reprimir a arte!

— “O homem do membro pequeno”, não! Aí já é demais!

— É uma metáfora!

— Você não conseguiu me explicar essa metáfora até agora.

— É uma metáfora complexa, cada um entende o que quiser…

— Eu entendi muito bem. Dessa vez você subestimou a minha inteligência! E você que sempre disse que era de um tamanho bom… Eu quero o divórcio!

— Calma, vamos conversar!

— Nada disso! Eu não converso mais com você. Nem uma palavra. Senão depois vem o livro “O homem da conversa chata”. Chega! Acabou! Adeus!

Saiu irritado, esbarrando nos garçons. Ela ficou na mesa atônita, antes de tudo, surpresa com aquela reação. Não imaginava que algum dia o marido pudesse perceber as sutilezas da sua literatura. Pegou o telefone na bolsa e ligou para o seu editor, que era também um amigo.

— Hélio? É a Silvia. Meu marido pediu o divórcio.

— Por causa do livro?

— Foi.

— Eu imaginei que isso pudesse acontecer. Uma pena.

Um instante de silêncio nos dois lados da linha até que ela fala:

— Hélio, cancela o projeto.

— Como? Cancelar? Mas já está tudo encaminhado!

— Cancela. Agora.

— Pensa bem, Silvia! O seu marido já não pediu o divórcio? Para quê cancelar, então? Não vai adiantar nada!

— Eu sei, eu sei, não é isso. É que, depois do que aconteceu, eu prefiro publicar aquele outro, que eu escrevi antes, sabe? Agora dá.

— É verdade, bem pensado, aquele é até melhor do que o novo.

— Eu só quero fazer umas alteraçõezinhas, já faz algum tempo que ele foi escrito.

— E o que eu faço, então? Espero você mandar as mudanças?

— Isso, espera. Quer dizer, por enquanto já pode mudar o título.

— Por quê? Eu gostava tanto de “O amor e o vizinho”.

— Eu também gosto. Mas põe no plural.

E-Mail: mnogueira@fnazca.com.br

Blog: http://www.contosdointervalo.zip.net

Marcelo Nogueira (1974) nasceu em Santos (SP). É formado em propaganda pela FAAP. Redator publicitário, foi o autor de campanhas para “Sustagen Kids” (”mãe, compra brócolis”). Sua crônica, “Primeira Barba”, foi publicada pelo jornal “Folha de São Paulo”.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Rose conta a sua história após a tragédia...


Fiquei surpreendida. Eu não podia acreditar que o meu Jack tinha morrido. Ele salvou-me, mas eu não podia fazer nada para salvá-lo. Mas, eu prometi que eu nunca desistiria. Sempre. É terrível tornar a lembrar desse dia...
Fui salva pelo navio "Carpathia". Eu podia ver atrás de mim Cal no navio. Eu não quero vê-lo mais. Jack tocou meu coração e meu relacionamento com Cal foi realmente acabou!
Eu disse que amava Cal. Eu menti. Eu nunca poderia amar esse estúpido homem. Foi difícil "atuando" como uma garota maravilhosa e noiva. Eu nunca o amei! E eu nunca vou amá-lo!
A tragédia ainda está em minha mente. Eu nunca vou esquecê-lo. Eu realmente não sei o que eu faria sem Jack. Eu tinha certeza que iríamos casar e ser felizes! O navio dos sonhos tem destruído os meus sonhos. Isto é algo irónico...
Eu estava pensando sobre a minha mãe. O que aconteceu com ela? Provavelmente, ela ainda quer o meu casamento com Cal.
Minha mente virou uma bagunça! Eu poderia não entender nada. Eu só tinha uma pergunta: O que eu faria sem Jack? Perdi meu pai no ano anterior, eu sou filho único e eu perdi o meu amor, meu amigo, meu tudo. Oh, meu Deus ...
Deus, que dia terrível! Quando cheguei em Nova York, eu não sabia para onde ir. Eu só não queria ver Cal. Ele não podia saber que eu estava vivo! E eu não podia olhar para ele. Estúpido homem! Atirou em mim e Jack enquanto o navio estava a afundar ... Por que ele não morreu naquela terrível noite?
Quando eu estava em Nova York, fui para a casa do meu tio.
-Rose? O que você está fazendo aqui? O Titanic já chegou? - Perguntou ele.
Comecei a chorar.
-Não, meu tio. Titanic afundou...- disse.
- O quê? Estás a brincar? - Ele ficou surpreso.
- É verdade, tio John. O navio dos sonhos falhou. Eu sobrevivi. Eu fui resgatada e aqui estou. Eu não tenho nem dinheiro nem roupa, nada.
- Eu... eu não acredito... e sua mãe e Cal?
- Não sei, tio... não sei o que fazer... Eu estou viva, mas no interior, eu não sou.
- Oh, vá lá, Rose! Diga-me o que aconteceu. Meu Deus...
- Obrigado, tio...
Meu tio foi surpreendido. Ele simplesmente não podia acreditar que o navio afundou e que eu estava viva. Eu não estava de bom humor para falar de Jack. E, eu não quero quebrar o coração de ti John, dizendo que a minha relação com Cal tinha acabado. Eu decidi dizer-lhe somente sobre a tragédia. Eu não disse sobre o Jack. Eu acho que não podia. É difícil dizer sobre ele. Eu ainda não sei o que pensar sobre o nosso amor...
Eu disse tudo sobre a tragédia. Ele chorou muito e rezou pela minha mãe. Eu realmente não estava interessada na minha mãe. Eu estava muito zangada com ela porque ela queria o meu casamento mesmo sabendo que eu nunca amei Cal em toda a minha vida! Ela estava apenas preocupada com o seu dinheiro!
-Você está errado, Rose! Sua mãe é muito importante para você! Temos de descobrir onde ela está agora. Ela é sua mãe, Rose! Nunca a esqueça! - Disse Kim
-A coisa mais importante é que estou aqui, viva! Mas, Kim, eu tenho medo! Penso que esta tragédia mudou a minha vida para sempre! Eu nunca vou esquecê-la! - Eu disse.
-Você é tão egoísta, Rose! Tal como a minha mãe.
-Não diga isso para mim! Minha mãe sempre diz a mesma coisa! Eu não sou egoísta! - Eu disse, gritando.
Eu nunca gostei de minha mãe em tudo. Antes ela era uma pessoa maravilhosa, mas quando meu pai morreu, ela ficou horrível! Claro que eu entendo que o dinheiro tenha ido (ela sempre diz isso). Gostaria de ser feliz com o meu amor. Para ter meus filhos, minha família, meu casamento, mas não para salvar DeWitt Bukater do dinheiro. E, eu encontrei o meu amor! Achei! Ele não é Cal, e nunca vai ser dele. Meu amor é Jack Dawson, o pobre homem que eu conheci no Titanic, o homem que realmente estava interessado em me salvar, me compreender, me ajudar e me amar! E minha mãe odiou Jack desde que eu apresentei-lhe para ela. Só porque ele não tem dinheiro e futuro! Cruel e rude mulher!
Eu decidi ficar com tio John e Kim. Tio John era o irmão de meu pai. Ele sempre gostou de mim. Quando eu era criança, eu vivi dois meses com ele. Agora, ele era a minha salvação. Eu não tinha lugar para ir. Minha casa estava trancada. Minha mãe era a única que possuía a chave para entrar na casa. E eu ainda não sabia nada sobre ela.
Eu tentei saber alguma coisa, lendo os boletins informativos sobre o afundamento do Titanic. Todo mundo estava realmente espantado com a notícia. E senti no meu corpo e no meu coração tudo. Eu não podia parar de pensar sobre Jack.
Mas, meu tio estava me ajudando a esquecer a tragédia. Ele falou comigo sobre muitas coisas, como o clima, o mundo, da cidade de Nova York... Mas, eu estava sempre pensando em Jack, nossos doces momentos juntos e de uma promessa: para sobreviver e nunca desistir!
Fui com Kim ao museu. Eu comecei a chorar lá quando eu estava vendo Picasso e Monet. Eu lembrava-me de Jack e sua pintura "como uma garota francesa"...
Outro dia, eu fui para ver o Liberty. Eu também comecei a chorar, lembrando o momento eu disse que meu nome era Rose Dawson e achei "O Coração do Oceano". Cal deu para mim, mas quando eu o vejo, lembro-me Jack. Tudo me faz lembrar o meu amor.
Eu não conto a ninguém sobre o Jack. É o meu segredo...
Eu estava sentada pensando em Jack. Quando ele me salvou, quando ele apresentou o modo de cuspir como um homem, quando ele dançou comigo, quando ele me fez voar, quando ele me beijou pela primeira vez, quando ele pintou-me, oh, tão grandes momentos... e eles nunca irão voltar...
- Rose, está chorando? - Perguntou Kim.
- Não.. não, eu estou bem...- eu disse.
- Oh, Rose, eu sei que você está triste. É claro! Você viveu momentos terríveis. Mas, tentar esquecer-se. Vou pedir por sua mãe e Cal hoje. O boletim sai...
- Oh, por favor! Não me fale sobre Cal...- disse, gritando.
- Rose? O que realmente aconteceu? Cal está morto? - Ela perguntou-me.
"Espero que sim!", Pensei. Mas, eu não disse isso. Saí da sala e fui ao banheiro. Eu olhei para o espelho. Eu estava horrível! Comecei a chorar de novo. "Eu era tão linda! O que aconteceu comigo?". Então, deixei de chorar. "Jack não gostaria de saber que não estou a contar e cada dia que eu não sou feliz. Rose, você deve fazer o seu dia contar!", Pensei.
Eu tentei sorrir. Foi tão difícil, mas eu tenho! "Lembrar o dia que Jack e eu estávamos voando", pensei. Eu comecei a sorrir. Eu estava realmente certo de que Kim pensava que eu era louca...
Três dias depois da tragédia, eu estava lendo a notícia. Os barcos já chegaram a Nova Iorque, bem como o navio "Carpathia", em que eu viajei. Mas, um barco afundou. Fiquei realmente chocada: era exatamente o barco de minha mãe! Eu li o seu nome e Molly Brown também. Eu comecei a chorar...
Liguei para meu tio e Kim. Eles choraram muito quando me mostraram a notícia. Eu não sabia o que fazer. Eu decidi ir para o porto, saber de minha mãe. Ela poderia estar viva!
Quando cheguei lá, vi Molly Brown, sentada e chorando muito!
- Sra. Brown? - Eu perguntei ...
Ela não me respondeu. Cabeça baixa, chorando muito.
- Eu sou Rose! Olhe para mim, Molly! - Eu disse.
Ela ficou surpreendida.
- Rose? Que... que... que você está fazendo... você está viva? - Ela não sabia o que dizer.
- Sim, Mrs. Brown! Eu estou aqui. O que aconteceu com a minha mãe? - Perguntei.
- Oh, minha filha, você não sabe... o nosso barco afundou...
- Sim, eu sei que... onde está minha mãe agora? - Perguntei novamente.
- Ela.... ela... oh, meu Deus... ela...
- Ela o que?
- Ela morreu, Rose... a última palavra foi seu nome... pobre mulher...
Eu não chorei. Eu já soubia que minha mãe estava morta. Mas, eu não compreendi por que razão Molly Brown estava viva e minha mãe não estava. Fiquei muito triste, claro. Mas, aí, com Molly, me lembrei da minha mãe, as palavras de Jack, o jantar e quando ela tinha me proibido de vê-lo novamente. Eu estava mais irritada do que triste. Eu estava irritada comigo também. Eu era uma menina terrível. Minha mãe tinha morrido e eu ainda estava zangada com ela! Eu não estava a compreender nada...
- Eu estava com sua mãe no barco. Alguém disse que o barco tinha de voltar a levar as pessoas na água fria. Eu estava nervosa e disse-lhes para voltar. Eles não me ouviram e não voltaram. Então, nós começamos a viajar para Nova Iorque porque o nosso barco não seria socorrido por "Carpathia". O problema começou quando uma parte do barco quebrou. Todo mundo caiu na água. Eu não acreditava que iria morrer. Sua mãe estava comigo, dizendo sempre o seu nome, mas, quando o barco quebrou, eu me perdi dela. Eu não tinha lugar para ir. Após um longo período de tempo, eu encontrei a sua mãe. Ela morreu por causa do frio... - Molly Brown disse-me.
Eu não estava chorando ainda. Molly ficou surpresa porque eu não chorei.
- Bem, Mrs. Brown, Eu nunca vou esquecer essa noite. Eu estava certa de que "Titanic" nunca iria afundar! Eu nunca poderia pensar que "o navio dos sonhos" iria matar tantas pessoas.
-E você, Rose? O que aconteceu com você? E aquele garoto, Jack? - Ela perguntou-me.
Quando ela disse o nome do Jack, eu comecei a chorar.
- Ele morreu, Mrs. Brown. Ele morreu... ele salvou-me, mas eu não pude salvá-lo... você pode acreditar, minha vida não é a mesma... eu estava completamente apaixonada por Jack e eu tinha certeza que seria feliz para sempre...
- Oh, Rose! Sinto Muito. Você perdeu seu pai, sua mãe, seu homem... pobre menina...
- Eu me perdi também, Mrs. Brown. Essa é a verdade...
Felizmente, ela não me perguntou sobre Cal. Eu não seria capaz de falar sobre aquele estúpido, chato, homem egoísta.
Uma semana após a tragédia, eu ainda estava vivendo com o meu tio John Bukater. Eu não poderia ficar na minha casa porque minha mãe era a única que tinha as chaves. Molly Brown pediu-me para viver com ela. Mas eu disse que preferia ficar com minha família.
Eu estava no jardim, olhando as flores e as aves e meu tio me chamou:
- Rose, você tem uma carta! Cal escreveu uma carta para você, no principal jornal de Nova York!
Quando eu abri o jornal, eu vi que realmente Cal tinha escrito uma carta para mim. Eu não podia acreditar! Ele ainda lembrava de mim! Fui para o meu quarto e comecei a ler a carta.
Rose DeWitt Bukater, não sei se você está viva, mas eu decidi escrever aqui. Sei que você está chateada comigo. Você pode ter certeza que eu ainda amo você. Só para que você saiba que você está com o "coração do oceano". Nunca esqueça meu sentimento sobre você.
Amor,
Caledon Hockley
Eu não acredito! Ele havia escrito o meu nome completo! Todo mundo ia saber. Porque ele não morreu naquela noite? Por quê?
Escondi o jornal. Eu não quero o meu tio e meu sabendo que eu tinha alguém. Eu não queria falar sobre meu Jack.
Cal estava certo! "O Coração do Oceano" ainda estava comigo. Eu estava realmente preocupada. Eu não quera que Cal descobrisse que eu estava vivo. Eu decidi mudar de Nova Iorque...
Tio John me disse para não deixá-lo. Mas, eu não tive escolha. Decidi começar uma nova vida, por si só, esquecendo o passado e ter a minha privacidade. Eu nunca poderia encontrar Cal novamente... nunca...
Tomei o trem. Eu tinha dinheiro, que o meu tio me deu antes de sair. Fiquei em um hotel por um tempo. Um dia, eu estava em meu almoço no hotel e um homem veio conversar comigo.
Perdoe-me, senhora, pode falar com você? - Ele me perguntou.
- Oh... certo! Sente-me, por favor. - eu disse.
- Obrigado.
O homem sentado começou a falar:
- Meu nome é Jake Calvert. Eu sou diretor de filmes. Gostaria de convidá-la a atuar em meu novo filme. Preciso de alguém como você, bonita, cabelos ruivos e jovem.
Fiquei espantada!
- Bem, Sr. Calvert... eu não sou atriz. Eu não sei nada sobre a atuação.
- Não há problema, a Sra.,...
- Rose... Rose Dawson. - eu disse. Fiquei orgulhosa da minha alcunha.
- Eu preciso de alguma garota como você. Eu sei que você pode ter se surpreendido, mas eu preciso de você no meu novo filme. Posso contar com você? - Ele perguntou-me.
- Bem... eu gostaria de saber mais sobre o filme...- eu disse.
Eu adorei a idéia! Eu estava precisando de um emprego para ganhar dinheiro. Fui com Jake Calvert para seu estúdio. Fiquei espantada! Tudo era maravilhoso. Ele era tão bom comigo. Eu disse a ele sobre o meu passado, não sobre o Jack, mas sobre o Titanic e como eu perdi a minha família. Eu disse-lhe a verdade, que eu era um DeWitt Bukater e ele ficou surpreso.
- A DeWitt Bukater? Ah, você merece bons salários, Ms.Rose! - Ele estava brincando.
Jake Calvert convidou-me a viver em sua casa. Ele era uma pessoa maravilhosa, me ajudando muito. Eu comecei a viver com sua família: Josh Sr. e Sra. Caroline e suas irmãs, Martha, Kathy e Jennifer. A família me amava como sua nova filha.
Sempre que digo Jake, eu me lembro de Jack. E estou certa, estou fazendo todos os dias contarem e não estou descumprindo a minha promessa.
O filme de Jake foi realmente muito interessante! Ele fala de uma moça de Paris. Quando eu estava lendo o script, me lembrei de Jack falando sobre Mme. Bijoux, a velha senhora que ele tinha pintado.
Um dia, Jake me convidou para ir a um restaurante. Claro que eu fui, ele era o meu "patrão"!
- Rose, gostaria de lhe dizer uma coisa! - Disse ele.
- Diga-me, Sr. Calvert! - Eu disse.
- Não me chame de Sr. Calvert mais... somos amigo ... me chame de Jake...
Jack disse-me quase a mesma coisa quando eu o chamei de Mr.Dawson!
- Rose, eu preciso te dizer. Eu não posso esperar mais... Estou apaixonado por voce... - Disse ele, corar.
Eu não tinha palavras. Eu também estava a pensar que eu era apaixonada por ele. Mas, sempre, Jack estava na minha mente. Eu ainda o amava, muito. Eu estava fazendo o meu dia contar e eu prometi que eu iria sobreviver e ser feliz.
- Jake, eu também preciso te dizer uma coisa ...- eu disse.
- Diga-me, meu amor! - Ele disse-me, tão bonitinho.
- Eu acho que eu também estou apaixonada por você...
Tudo estava acontecendo tão rápido! Jake e eu decidimos casar no mês seguinte. Eu estava realmente amando ele, mesmo Jack ainda estando em minha mente.
Meu casamento foi maravilhoso! Molly Brown estava lá, e ela deu-me uma linda boneca. Adorei!
- Rose, você esqueceu Jack Dawson? - Ela perguntou-me.
- Não, Sra. Molly, eu nunca vou esquecê-lo! Eu estou aqui porque ele me salvou. Eu amo o Jake, mas eu ainda amo Jack e sempre vou amá-lo. - Eu disse Molly.
Molly me abraçou. Ela sabe que eu não posso esquecer o meu Jack.