quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sobre correr riscos...



Morte e vida de Charlie (Charlie St. Cloud)

O filme estrelado por Zac Efron (eterno High School Musical) e Amanda Crew nos leva a refletir sobre viver a vida. Parece clichê, mas o filme traz consigo uma agradável lição de como enfrentar os medos e sair da "mesmice", que muitas vezes nós mesmos nos deixamos permanecer.

Além de sua sensiblidade por enxergar pessoas mortas (ou imaginá-las, a conclusão vai de cada um), o protagonista (Charlie St Cloud), é preso ao passado e às suas lembranças. Sente-se culpado pela morte do irmão e, por isso, nunca saiu de sua cidade. Desistindo de sua bolsa de estudos em Stanford para viver sozinho na pacata cidade, ele consegue um emprego como zelador do cemitério municipal (função também que não cabe a um jovem) para ficar ainda mais "próximo" a seu irmão. Desta forma, é visto como um cara estranho e recluso por toda população.

O filme cita duas vezes o trecho de um poema de E.E. Cummings, chamado ”Dive for dreams” (Mergulhe em seus sonhos). O poema é sobre se arriscar e confiar em seu coração, o que, de fato, tem tudo a ver com a história do longa metragem.

“Trust your heart if the seas catch fire (and live by love though the stars walk backward)”. O trecho diz para acreditar no coração, seja qual for a circunstância, e até mesmo se “as estrelas andarem para trás”.

Charlie se encontra numa situação de vida que não lhe compete. Em certo momento do filme, Charlie encontra o bombeiro que salvou sua vida no dia do acidente. O bombeiro, interpretado por Ray Liotta, acredita que Charlie seja um milagre, pois ele o fez ressuscitar no dia de seu acidente e, diante dos comentários da cidade, o aconselha a 'viver a vida'.

Sendo um milagre ou não, Charlie precisa desprender-se do passado para libertar-se e, para isso, terá que esquecer seu irmão para ir de encontro ao amor, onde ele afirma ter uma missão (salvar Tess, e talvez até dar sua vida pelo ato). É quando ele se deixa conduzir por seu coração, vai "em busca" do amor e mesmo sofrendo, deixa seu irmão no passado.

Também há algo de muito bonito no filme. A questão da promessa. Charlie promete ao seu irmão Sam antes de morrer (e também depois de sua morte, quando o encontra no dia de seu enterro) que irá ensiná-lo a jogar beisebol todos o dias, ao fim da tarde. E assim acontece por cinco anos. Até que, então, ele precisa decidir entre manter a promessa que fez ao irmão de nunca mais abandoná-lo, ou seguir o desejo de seu próprio coração e dar um novo rumo para a sua vida.

Somando, o filme traz a tona várias questões. A coragem para fazer escolhas e determinar caminhos, a libertação, os riscos para se tornar feliz, o amor, a promessa e a vida.

Além de contar com ótimos atores (Ray Liotta e Kim Basinger), o filme também tem uma bela fotografia. Valorizando os planos abertos, ela dá ênfase no clima de tranquilidade e boa convivência da cidade. A sequência de imagens do mar, pôr-do-sol, o farol... Todas elas ambientam o contexto do filme.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

“Elegância é recusar.”

... toda renúncia, a sua recompensa.



“Uma mulher precisa de apenas duas coisas na vida: um vestido preto e um homem que a ame”. (Gabrielle Coco Chanel)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Vamo que vamo...

Vamos morrer hoje, exatamente hoje, o que nos resta?

não há nada atrás da porta, não há nada atrás de amanhã, o que era pra ser já foi. tu duvidas?

vamos embora daqui, vamos embora de lá, vamos todos embora pra onde. quem sabe?

ela foi-se embora e não telefona, ele foi-se embora e não telefona, todos foram-se embora e não telefonam. pra que isso?

ontem era um dia tão bonito. ontem era um dia tão bonito. ontem era um dia tão bonito. que houve com ontem?

vamos morrer hoje. vamos dormir hoje. vamos foder hojer. quem se habilita?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Casa arrumada


Casa arrumada é assim...

Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.

Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...

Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.

Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.

Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente. Arrume a sua casa todos os dias... Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela... E reconhecer nela o seu lugar.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Rauuuuul Rauuuul

raul-seixas-1

Hoje me deu uma saudade danada de Raul… Não sei porque, me lembrei dele. (Cantarolei umas músicas inesquecíveis…)

Aquela energia meio estranha que ele tinha. Inexplicável, incomun…

Nuns momentos ele era muito doce, muito terno… Noutros: puro ácido, rascante, picante! Eram duas faces tão antagônicas… Uma iluminada, outra no escuro. Como todos nós. Mas em Raul tudo era muito, tudo era mais!

Ô Raul doido!

Maluco Beleza! Por qual galáxia andarás?

“E eu do meu lado aprendendo a ser louco”…

“Eu, eu ando de passo leve pra não acordar o dia
Sou da noite a companheira mais fiel qu’ela queria!
Yeah, yeah, yeah, yeah!
Amo a guerra, adoro o fogo
Elemento natural do jogo, senhores:
Jamais me revelarei! Jamais me revelarei!
Eu, eu ando de passo leve pra não acordar o dia
Sou da noite a companheira mais fiel qu’ela queria!
Yeah, yeah, yeah, yeah!
E quão longa é a noite.
A noite eterna do tempo
Se comparado ao curto sonho da vida
Chega enfeitando de azul
a grande amante dos homens
Guardando do sol, seu beijo incomum….. ah!
Seja bom ou o que não presta
Acendo as luzes para nossa festa, senhores:
Eu sou o mistério do sol! Eu sou o mistério do sol!
Eu, eu ando de passo leve pra não acordar o dia
Sou da noite a companheira mais fiel qu’ela queria!
Yeah, yeah, yeah, yeah!
Mas é com o sol que eu divido toda a minha energia
Eu sou a noite do tempo. Ele é o dia da vida
Ele é a luz que não morre quando chego e anoiteço
O sol dos dois horizontes a mais perfeita
harmonia…..
Eu, eu ando de passo leve pra não acordar o dia”…

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Aproveite bem o seu dia


Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em um vôo da Air France, em que a comida e a bebida têm a obrigação de oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico. Sem que você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida acabou. Numa bola de fogo ou nos 4 000 metros de água congelante abaixo de você naquele mar sem fim. Você que tinha acabado de conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos.
Talvez você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo terminava ali.Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta disso. Fim.
Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar vestígios. Como se jamais tivesse existido. Seus planos de trocar de emprego ou de expandir os negócios. Seu amor imenso pelos filhos e sua tremenda incapacidade de expressar esse amor. Seu medo da velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria. Sua insegurança em relação ao seu real talento, às chances de sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a cada seis meses. Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo. Seus sonhos de trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa temporada . Suas noites de insônia, essa sinusite que você está desenvolvendo, suas saudades do cigarro. Os planos de voltar à academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na agenda para resolver assim que tivesse tempo.
Bastou um segundo para que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma lâmpada que acaba e não volta a acender mais. Fim.
Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele todos os bons sentimentos possíveis. Não deixe nada para depois. Diga o que tem para dizer. Demonstre.. Seja você mesmo. Não guarde lixo dentro de casa. Não cultive amarguras e sofrimentos. Reflita a sua conduta para com as pessoas. Valorize as suas conquistas. Prefira o sorriso, faz bem a você e aos que estão ao seu redor. Dê risada de tudo, de si mesmo. Não adie alegrias nem contentamentos nem sabores bons. Seja feliz. Hoje. Amanhã é uma ilusão. Ontem é uma lembrança. No fundo, só existe o hoje e o que você deixará no "amanhã". Se necessário: redirecione a sua vida e faça um novo fim. Por fim, agradeça a Deus simplesmente por você existir.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Uma mente brilhante

Sempre acreditei nos números

Nas equações e na lógica que leva à razão

E após uma vida toda de buscas, pergunto:

O que realmente é a lógica?

Quem decide o que é racional?

Tal busca me levou através da Física, da Metafísica, do delírio e de volta

E então fiz a descoberta mais importante da minha carreira

A descoberta mais importante da minha vida

É somente nas misteriosas equações do amor que alguma lógica pode ser encontrada

Só estou aqui por sua causa

Você é a razão pela qual existo

Voce é toda minha razão

Obrigado

John Nash - Uma mente brilhante

PROUNI

por Élio Gaspari, em O Globo
A demofobia pedagógica perdeu mais uma para a teimosa insubordinação dos jovens pobres e negros. Ao longo dos últimos anos o elitismo convencional ensinou que se um sistema de cotas levasse estudantes negros para as universidades públicas eles não seriam capazes de acompanhar as aulas e acabariam fugindo das escolas. Lorota. Cinco anos de vigência das cotas na UFRJ e na Federal da Bahia ensinaram que os cotistas conseguem um desempenho médio equivalente ao dos demais estudantes, com menor taxa de evasão. Quando Nosso Guia criou o ProUni, abrindo o sistema de bolsas em faculdades privadas para jovens de baixa renda (põe baixa nisso, 1,5 salário mínimo per capita de renda familiar para a bolsa integral), com cotas para negros, foi acusado de nivelar por baixo o acesso ao ensino superior. De novo, especulou-se que os pobres, por serem pobres, teriam dificuldade para se manter nas escolas.
Os repórteres Denise Menchen e Antonio Gois contaram que, pela segunda vez em dois anos, o desempenho dos bolsistas do ProUni ficou acima da média dos demais estudantes que prestaram o Provão. Em 2004, os beneficiados foram cerca de 130 mil jovens que dificilmente chegariam ao ensino superior (45% dos bolsistas do ProUni são afrodescendentes, ou descendentes de escravos, para quem não gosta da expressão),
O DEM (ex-PFL) e a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino foram ao Supremo Tribunal Federal, arguindo a inconstitucionalidade dos mecanismos do ProUni. Sustentam que a preferência pelos estudantes pobres e as cotas para negros (igualmente pobres) ofendiam a noção segundo a qual todos são iguais perante a lei. O caso ainda não já foi julgado pelo tribunal, mas já foi relatado pelo ministro Carlos Ayres de Britto, em voto memorável. Ele lembrou um trecho da Oração aos Moços, de Rui Barbosa: "Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real."
A "Oração aos Moços" é de 1921, quando Rui já prevalecera com sua contribuição abolicionista. A discussão em torno do sistema de acesso dos afrodescendentes às universidades teve a virtude de chamar a atenção para o passado e para a esplêndida produção historiográfica sobre a situação do negro brasileiro no final do século XIX. Acaba de sair um livro exemplar dessa qualidade, é "O jogo da dissimulação - Abolição e Cidadania Negra no Brasil", da professora Wlamyra de Albuquerque, da Federal da Bahia. Ela mostra o que foi o peso da cor.
Dezesseis negros africanos que chegaram à Bahia em 1877 para comerciar foram deportados, apesar de serem súditos britânicos.
Negros ingleses negros eram, e o Brasil não seria o lugar deles.
A professora Albuquerque transcreve em seu livro uma carta de escravos libertos endereçada a Rui Barbosa em 1889, um ano depois da Abolição.
Nela havia um pleito, que demorou para começar a ser atendido, mas que o DEM e os donos de faculdades ainda lutam para derrubar:
"Nosso filhos jazem imersos em profundas trevas. É preciso esclarecê-los e guiá-los por meio da instrução."
A Comissão pedia o cumprimento de uma lei de 1871 que prometia educação para os libertos. Mais de cem anos depois, iniciativas como o ProUni mostraram não só que isso era possível, mas que, surgindo a oportunidade, a garotada faria bonito.

ELIO GASPARI é jornalista.